A Caminho de Marte: Cientista brasileiro conta como chegou à Nasa

Físico Ivair Gontijo, especialista em optoeletrônica, ajudou a pousar sonda Curiosity em Marte e trabalha em missão para 2020

São Paulo ? Marte teve água líquida durante milhões de anos. Essa é uma das principais descobertas feitas pela sonda Curiosity. Isso foi possível porque ela fez um pouso de sucesso, sem se chocar com o planeta vermelho. Diversos funcionários da Nasa (agência espacial americana) precisaram fazer milhares de cálculos e utilizar uma complexa tecnologia baseada em lasers para a aterrissagem. O brasileiro Ivair Gontijo foi um deles. Compondo a elite mundial de exploração espacial, ele trabalhou junto com engenheiros elétricos, projetistas de radiofrequência, analistas térmicos e mecânicos.

Natural de Minas Gerais e formado em física, Gontijo acredita que qualquer pessoa pode chegar a ser, como ele, um cientista da Nasa, mesmo sendo estrangeiro. Para ele, o foco e a paciência para desenvolver a carreira são os segredos para atingir o sucesso profissional. O cientista trabalhou no ?coração? da sonda Curiosity, o equipamento que mandou pulsos de microondas para o solo de Marte e recebeu de volta o sinal para permitir a aterrissagem segura em território marciano.

Em seu livro, chamado ?A Caminho de Marte? (2017; Editora Sextante), Gontijo usa linguagem simples e didática para contar sua história e os feitos dos Estados Unidos e da União Soviética na exploração espacial.

Em sua visão, a crença que o homem nunca foi à Lua não faz sentido, porque o feito envolveu centenas de milhares de profissionais na década de 1960 e também porque tal mentira não poderia ser sustentada por tantos anos ? inclusive, porque a União Soviética teria contado ao mundo que seu rival mentira (em vez disso, o país, depois de derrotado na corrida pela Lua, enviou sondas para o planeta Vênus).

Gontijo será um dos principais palestrantes da Campus Party 12, evento de tecnologia, empreendedorismo e entretenimento que acontece em São Paulo, entre os dias 12 e 17 de fevereiro, em São Paulo. Atualmente, seu trabalho no laboratório de propulsão a jato (JPL, na sigla em inglês) está focado em uma missão coletora no planeta vermelho, que tem lançamento marcado para 2020.

Confira a seguir a entrevista de EXAME com Gontijo.

 

EXAME: Como um brasileiro foi parar na Nasa?

 

Ivair Contijo: Nenhum de nós sabe como nossa carreira vai se desenvolver. Temos que tentar de tudo e acreditar que alguma coisa vai dar certo no final. Trabalhei em várias áreas diferentes, estudei assuntos diferentes, sempre com um plano de longo prazo, um compromisso comigo mesmo de criar a própria carreira. Todo mundo tem um futuro brilhante pela frente, mas ele precisa ser conquistado. As coisas não acontecem em  dois ou cinco anos. Objetivos grandes precisam de uma década ou mais.

Quando digo que passei por várias áreas diferentes, é porque administrei uma fazenda em Minas Gerais, quando parei de estudar por três anos, depois me formei em física e fiz um mestrado em óptica, depois morei por dez anos na Escócia, onde concluí doutorado em engenharia elétrica e só depois me mudei para a Califórnia e comecei a trabalhar na Nasa.

 

EXAME: O que motivou você a trabalhar com exploração espacial?

 

Um momento marcante foi a primeira coisa que eu vi na televisão: a chegada do homem à Lua. Quando era criança, eu não sonhava em trabalhar na Nasa porque isso parecia impossível. Ainda assim, isso despertou meu interesse por áreas técnicas. Outro ponto que me levou em direção à astronomia foi a oportunidade de ver o céu estrelado durante as noites na fazenda em Minas Gerais. Comecei a estudar astronomia de forma profissional na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Hoje, minha especialidade é optoeletrônica. Ela é a junção entre a óptica e a eletrônica.

Sou especialista em aparelhos que usam luz, lasers. Quando falamos ao telefone, o sinal da voz é convertida em um sinal elétrico que vai para uma torre de transmissão, chega a um centro de distribuição, onde ele vira um laser, e isso cai em fibras de transporte para chegar até um detector de luz, é convertido em sinal elétrico novamente e chega aos ouvidos da pessoa do outro lado da linha. Isso tudo acontece em 20 milissegundos. Para nós é como se fosse instantâneo.

 

EXAME: Como você conseguiu o emprego na Nasa?

 

Tentei algumas vezes entrar na Nasa, mas não consegui. Trabalhei em uma empresa de fibra óptica e recebi uma ligação do JPL, da Nasa, dizendo que tinham encontrado meu currículo em um fórum e que eu tinha o perfil procurado por eles. Seriam feitos testes em lasers, com um grupo interdisciplinar, antes de eles serem mandados para o espaço. Fui contratado para trabalhar nisso. Uma semana depois, fui chamado para trabalhar na construção dos emissores e receptores do radar que ia controlar a descida da sonda Curiosity em Marte.

 

EXAME: O que faziam os lasers nesse primeiro projeto?

 

Não era um projeto de voo, era para certificar lasers para todos os centros da Nasa. Isso acabou sendo usado no telescópio de raio-x Nustar, criado pelo JPL, junto com a universidade de Berkeley. Ele focaliza luz de raio-x, um trabalho muito difícil. O raio-x tem que bater quase de raspão em placas e ser desviado para ser focalizado. Essa é uma ideia que veio do funcionamento do olho da lagosta. Nele, a luz bate em placas e é refletida para focalizar. No telescópio, o processo é o mesmo. Sistemas de meteorologia que estão ativos na órbita da Terra até hoje também usam os lasers com os quais trabalhei.

 

EXAME: Como você vê as empresas privadas querendo explorar o espaço?

 

Os foguetes terceirizados já existem há algum tempo. O Curiosity foi lançado para Marte com um deles. No fim, é mais dinheiro vindo para essa área. Há mais geração de empregos, então, para mim, isso é excelente.

 

EXAME: Como é sua rotina trabalhando na Nasa atualmente?

 

Intensa, cheia de desafios técnicos e de cronograma e de problemas que precisam ser resolvidos o quanto antes. Atualmente, estou trabalhando na próxima missão que vai para Marte, em 2020. Será uma missão de captura de amostras. Temos técnicas de física, química, biologia molecular na Terra que são super sofisticadas, mas que não podem ser aplicadas em Marte porque não temos tecnologia para transportar todos os equipamentos necessários. Por isso, iremos buscar amostras.

O veículo será parecido com o Curiosity, mas com instrumentos diferentes. Lá, vamos coletar materiais orgânicos em Marte que tenham alguma evidência de vida passada ou presente. Os materiais serão coletados, guardados em tubos e deixados na superfície de Marte. Uma segunda missão coletará os tubos e os deixará na órbita do planeta. Uma terceira missão os buscará para trazê-los para a Terra.

A missão dois e a três fazem parte de acordos entre a Nasa e a ESA para execução. Isso provavelmente acontecerá em 2026. As duas etapas aconteciam em uma só missão. Estou trabalhando em um dos instrumentos, muito complexo e sofisticado. Parte dele é feito pelos franceses, parte por um time de Los Alamos (Novo México) e os alvos de calibração estão em produção na Espanha. A ideia é poder recalibrar o instrumento, que pode ser impactado pelo tempo e pela viagem.

Sou o engenheiro responsável por todas as interfaces desse instrumento, chamado Super Cam; pelas interfaces entre um instrumento e o veículo. Preciso garantir que ele tenha energia elétrica, que a massa que ele leva não seja maior do que a alocada para ele e que o software se comunique corretamente com o veículo, transmitindo dados. O lançamento está previsto para julho de 2020.

 

EXAME: Quais são os primeiros passos para se tornar um membro da Nasa?

 

A primeira coisa é ter um plano de longo prazo. É preciso muito trabalho, foco e paciência. E tentar de tudo. Quem tentar de cara um emprego aqui não vai dar certo. Por que eles dariam um emprego para um brasileiro se existem milhares de americanos também querendo a mesma vaga? Para mim, só deu certo porque eu poderia resolver um problema para eles. Se alguém do interior de Minas que parou de estudar por três anos conseguiu, qualquer um consegue. O preço é alto e leva muito tempo. É preciso ter foco por uma década ou mais. Essas coisas levam tempo.

 

EXAME: Como você vê a educação e a ciência no Brasil?

 

Acho que somos muito pessimistas. A Ciência no Brasil não é ruim de forma alguma. Os cientistas brasileiros são tão bons quanto os de qualquer outro país, talvez até melhores. A qualidade dos nossos cientistas é muito boa, e isso não vem do nada. Só pode vir de boas escolas. Problema existe em toda parte. Quando você passa muito tempo fora, começa a ver o Brasil com olhar de estrangeiro, e, é claro, não quero minimizar os nossos problemas. Mas, quando olhamos para o mundo, vemos que ninguém está super bem. Temos que manter o foco nas soluções.

Sobre a educação, digo que sempre estudei em escola pública. Isso não era o suficiente para passar em uma universidade. O que fiz foi estudar em um cursinho, por seis meses, para passar no vestibular de física. Oportunidades e mobilidade social existem também no Brasil.

Fonte: Epoca

03/02/2019 07:59

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